segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Ment/ir/al

Ainda presa no próprio início e fim,
não se concebe o meio, a vereda.
A mente não diz verdades,
cria.

Humano,
cão,
inseto,
orgânico.

Rocha,
solo,
ferro,
chão.

Luz,
ângulo,
onda,
reação.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sensorialismo

Olhar diretamente na face do tempo,
que (se) move e desmancha
perceber-se em profunda sincronia
com o inconcebível fluxo

desmanchando-se, contemplar a falta de sentidos, sensações
que tornem palpável, nunca "visível", a relação entre
o que decompõe tua carne e o que faz isso ser irrelevante.
Ouvir-se, perder-se nos clichês sensoriais que te humanizam,

desesperar-se e abraçar-se às cores que te extasiam
aos cheiros que te elevam e aos que te enclausuram
aos toques delicados das mãos que te acariciam
deitar-se e, sem tentar achar uma ação que "signifique",

esquecer o que é a gravidade que te proíbe
que teu corpo escorre para fora da tua compreensão
zombando da tua solidez, tornando líquidos teus orgãos
ignora tua falta de consciência e lhe abre os poros/

Plutão

Quão solitária deve ser uma caminhada em Plutão?
Vi uma planície vermelha e imensa
que me lembrou do mar de onde eu vivo
quão solitário é o lugar em que vivo?

Nada solitário, pois, há pó de estrelas
ao lado do meu peito, onde a fibra
se faz mais resistente e brilhante
Nada solitário é caminhar em Plutão.

Diz-me, planeta anão, como te sentes?
O que faz quando o sol passa por ti,
vês apenas um distante ponto,
ou tens em ti todas as sensações
que eu queria ter em mim?

Pássaro

Um pássaro voando em meio à chuva...
quantas gotas suas penas suportam?
voa com pressa, e desaparece entre galhos
o que te desprende do chão, pássaro?

Em meio ao concreto que te cerca,
teu vôo nunca foi mais (tão) leve
nossas penas são as mesmas, pássaro
queria, um dia apenas, ser um contigo

sou um contigo, e com você
chove e eu me sinto úmido
pelos hábitos me misturo
e não consigo atravessar mais

há um objeto redondo lá em cima
do lado daquela nuvem cinza
que fala com você, pássaro
é o sol que se avermelha

porque a tarde chega ao fim
e as nossas penas são as mesmas
e se à tarde é quando termino
sinto-me um, e todos, pássaro/

Panopticism

It goes constantly forward
then it steps back
and turns around.

It moves everytime faster
as if it were trying to see
how far the very ground can hold

It dissolves, and it leaks
through the sharpness of its own thoughts
as if it had never been there/

But it was there,
and it was tight:
regardless!

It dissolves again,
right when it seemed solid enough to hold:
the fog is too thick and all else is tight//

Narrow sidewalks get on the way
shimmering, enticing
unavoidably: it dissolves once more.

Cores de um fim de tarde de primavera

Will we notice in time?
Will our sight be wide enough?
Senses might endure
this blissful widening
of themselves/

Creatures of the world
scavengers of pleasure

How thin is the line
between meaning
and undermining?
As we see (it) it fades away
weakened and breathless

Creatures of the world
quivering for bliss!

Blissful uneasiness
stay close to all I see,
keep it going
steady and wavering
as meaninglessness

Creatures of the world
shivering under the stars

Dreamlike

Rubber bands lie
on the floor
when everything else
flows out of the window.

Mosquitoes bite
every piece of being
which is not
entirely torn apart/

There is a whole of it
that might never be changed
for it has never meant to be
any more than this glimpse

Wisps of light hover
over the gloomy bliss
of an empty sound!

Positive deviation
thrust into a senseless
non-functional whirl

Come back inside (x)


 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Post.

"There ir no overaching totality, rationality or fixed center to human life, no metalanguage which can capture its endless variety, just a plurality of cultures and narratives which cannot be hierarchically ordered or 'privileged', and which must consequently respect the inviolable 'otherness' of ways of doing things which are not their own.

Knowledge is relative to cultural contexts, so that to claim to know the world 'as it is' is simply a chimera - not only because our understanding is always a matter of partial, partisan interpretation, but because the world itself is no way in particular.

Truth is the product of interpretation, facts are constructs of discourse, objectivity is just whatever questionable interpretation of things has currently seized power, and the human subject is as much a fiction as the reality he or she contemplates, a diffuse, self-divided entity without any fixed nature or essence."

terça-feira, 11 de agosto de 2015

He might have been standing at the edge of infinity.

"He could see two ways ahead of him, and this appalled him, because hitherto he had never seen more than one straight line.

To owe his life to a man wanted by the law and to pay the debt in equal terms; to have accepted the words, 'You may go', and now to say, 'Go free', this was to sacrifice duty to personal motive. And now what was he to do?

Only one proper course lay open to him - to hurry back to the Rue de l'Homme-Arme and seize Valjean. Something prevented him. What was it? All the principles on which his estimate of man had been based were overthrown. Behind Valjean loomed the figure of Monsieur Madeleine, and they merged into one, into a figure of deserving veneration. Something dreadful was forcing its way into Javert's consciousness - admiration for a convicted felon. He did not for a moment deny that the law was the law. What more simple than to enforce it? But when he sought to raise his hand to lay it on Valjean's shoulder an inner voice restrained him: 'You will deliver up your deliver? Then go and find Pontius Pilates' bowl and wash your hands!' He felt himself diminished beside Jean Valjean.

But his greatest anguish was the loss of certainty. He was forced to admit that infallibility in not always infallible, that there may be error in dogma, that judges are men and even the lay may do wrong. All was chaos; and he, Javert, was in utter disarray. There were only two ways out. To go determinedly to Jean Valjean and return him to prison; or else...

The place where Javert stood was where the river flows in a dangerous rapid. He looked down. There was a sound of running water, but the river itself was not to be seen. What lay below him was a void, so that he might have been standing at the edge of infinity. He stayed motionless for some minutes, staring into nothingness, Abruptly he took of his hat and laid it on the parapet. A moment later a tall, dark figure, which a passer-by might have taken for a ghost, stood upright on the parapet. It leaned forward and dropped into the darkness.

There was a splash, and that was all."


quinta-feira, 30 de julho de 2015

Ora obscurecido, ora translúcido.

O problema da manhã é que ela torna tudo evidente, lúcido, transparente em excesso. Durante o dia encontramos tudo o que a há. Durante o sono perdemos as proteções que construímos ao redor do ego. O inconsciente, por meio dos sonhos, se comunica com aquele e deixa-o atento ao que, de fato, é. Acordamos e nos deparamos com a crudeza do renascimento, que nesse ponto torna tudo estrangeiro, uma vez que a psique, ao longo do ser, é saturada (quando é) de consciência do culminar, e não apenas isso, do almejar a tarde.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Somos o que sempre fomos e o que nos enganamos ser. Farsas absolutamente convencidas do "muito mais do que". Não fosse a fuga, o fim. Ainda assim: engana. Sofrimento banal.

14/07 - Good thing we die. Life suffering would not be bearable if not by the existence of death. Nevertheless, as we do what we do because of our endlessness and meaninglessness it would not be possible to conceive what life without death would/could be. It might be that everything we have conceived up to now is nothing but our misunderstanding of what we could have been if not for death that everything we put into this world is error and ignorance not by themselves but by our own error. Our errors that come out of a flawed logic system that is but a reflection of every previous aspect - as for what I have commented so far - of what we are. Good thing we live, therefore it is possible to wonder, and to dream overnight knowing that we are about to find out the absolute form of everything, the form which has already been found out by those who died. Language lacks expression. What a useless strive to wonder. What a waste to be. Let it be, though. For no reason.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O mundo é um moinho

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Sonhos - retorno à escrita

Olá, blog lindo e abandonada por cerca de dois anos inteirinhos. Voltarei a escrever aqui pois tenho sentido uma certa necessidade de registrar certos acontecimentos da minha vida, dos meus vinte e seis anos, visando obter auxílio para atingir certas mudanças. Sempre penso em escrever sobre as composições musicais que faço ou sobre como foi a meditação que fiz ou, ainda, e em especial, o que sonhei.

Ultimamente tenho sonhado muito. Não sei bem a razão, nunca soube, ninguém no fim das contas sabe na verdade. Há diversos palpites, sempre há, o ser humano adora palpitar e já abordei esse assunto aqui. Voltei a sonhar com uma frequência grande nessas semanas de férias entre 2014 e 2015. Pode ser que isso tenha relação com sensações novas que venho experimentando ou com minha frequência de leituras, que se intensificou significativamente nesse período de ócio maravilhoso. Estou lendo o livro Os Irmãos Karamázov de F. Dostoiévski. Quando escolho um livro para ler busco algo com que eu não tenha tido nenhum contato prévio. Minha formação acadêmica impossibilita isso, de certa forma, já que, mesmo que algumas dar obras propostas para estudo não tenham sido lidas eu acabava sendo submetido á análises que destrinchavam a narrativa em toda sua singularidade (quando me interessava). O presente livro é algo do qual nunca ouvi/li nada. Eu só tinha conhecimento do título e da autoria. A ignorância quanto ao conteúdo narrativo é fantástica, já que eu não fazia a mínima ideia do que me esperava. Minha única expectativa era de que seria algo genial e não fui frustrado nisso. Encontro-me na página 363 da obra, que conta, em seus dois volumes, com 987 laudas. 

Enfim. Ontem, antes de dormir, eu me aprofundei por um bom tempo na obra, que discutia a relação do cristianismo com o fazer histórico do mesmo. Isso foi feito em um monólogo de uma das personagens em que fui submetido (escrevi "o leitor" e apaguei, sem academicismo aqui, falo da minha experiência com a obra) a um turbilhão de argumentos que ora colocavam a imagem de Cristo em cheque, ora desconstruíam a imagem do papado medieval e da inquisição. Li sobre até onde é possível ir com a maldade humana (e é longe), sobre como crianças, em sua inocência absoluta, já sofreram com abusos causados por sujeitos transtornados e sádicos. Enfim, é uma obra que eu preciso terminar de ler, muito ainda está incompreendido, a narrativa é polissêmica e imprevisível. 

Após dezenas de páginas sublimes e os habituais afazeres pré-sono e vou para a cama.

Eis o sonho. Eu, mais dois amigos e minha namorada (<3 a.="" a="" acidentada="" adentr="" adentro.="" adiante="" agora="" ainda="" ajuda="" al="" alegremente="" altura="" am="" ambiente="" amigos.="" amos="" amplo="" anda="" andar="" antes="" ao="" ap="" aparentemente="" apenas="" apertadas="" apesar="" apresentar="" aproximadamente="" aproximarmos="" areia="" as="" assemelhava="" assuntos="" at="" baixa="" calmo="" caminho="" carro.="" carro="" cen="" cinco="" cio.="" com="" come="" como="" comunica="" conforme="" constante="" constantemente="" continuar.="" conversam="" conversamos="" correndo="" culminante="" curiosidade="" da="" das="" de="" desgovernada="" dificuldades="" dificultam="" dirigido="" disso="" diversos="" do="" dunas="" e="" eis="" elas="" em="" encontrar.="" enferrujadas="" ent="" entre="" era="" esclarecer="" escorrega="" escorregava="" escurece="" escuro="" esgoto="" est="" estabelecer="" estamos="" estar="" estreitar="" estreito="" eu="" existiam="" explor="" f="" ferro="" ficar="" foi="" forma="" fosse="" frente="" frio="" grades="" grandes="" gua="" h="" habitual="" haveria="" i="" idas="" ignorado="" imaginava="" imediatamente="" in="" inc="" indescrit="" inten="" isso="" j="" junto="" king="" lembrados="" ler="" li="" lo="" m="" maior="" mais="" mas="" me="" melhor="" mencionado="" meus="" mido="" mim="" modo="" molhadas.="" momento="" movem="" muda="" mudan="" muita="" muito="" mundo="" n="" na="" nas="" nel="" nem="" nico="" no="" nos="" nossa="" o.="" o="" olhava="" os="" ou="" paisagem="" para="" paramos="" parar="" parecido="" parte="" passageiros="" passagem="" pavor="" pedir="" pessoas="" pido="" plano="" poderia="" pondo="" por="" praia.="" praia="" presen="" presos.="" quando="" que="" querendo="" r="" rec="" riem.="" rimos="" rio="" ruma="" rumamos="" s="" sabia="" saem="" se="" seguindo="" segundo="" senti="" sentia="" sentimento="" sentir="" sobre="" sol="" sonho="" sou="" ssemos="" stephen="" subitamente="" superficial.="" surgiam="" surgido="" t="" temeroso="" tenebroso="" tentava="" ticas="" tirando="" todos.="" todos="" tornava="" tornou="" transforma="" tudo="" um="" uma="" vaga="" vale="" vamos="" vel="" voltar="" volume="" vou="">Torre Negra,
em que há uma praia sem fim ao longo de toda a obra, mas aqui não era praia, a praia era o início, meu tormento era o túnel. Acordei quando percebi que não havia mais volta, apesar de eu não ter passado por nenhum obstáculo que não pudesse ser retornado. Eu passaria a grade e me prenderia lá dentro caso não houvesse acordado.

Esse foi meu sonho de hoje. Pretendo manter o hábito de descrever futuros sonhos, seja para que propósito for. Interpretações quem sabe eu escreva também. Penso que um sonho é algo muito pessoal, me sinto "invadindo-me" ao publicar isso, entretanto, penso que a interpretação disso é ainda mais pessoal, essa eu reservarei para mim, quem sabe um dia escreva, ainda que não ache necessário. Mas o que é necessário? Viver não é necessário, logo, por que não?

Editado: o blog zoou toda a parte em que eu descrevia o sonho. O negócio é: o bug ficou fantástico. Consigo ainda compreender o que quis escrever. Vou deixar assim, subliminaridade e tudo implícito em um código bagunçado.