- Bom dia por que?
- Porque sim, não discute.
- Ontem eu tive um sonho estranho.
- Me conta.
- Sonhei que a vida era indiferente. E que eu nadava em um mar em que eu não saia do lugar.
- Não sei o que significa isso.
- Mas não foi a primeira vez. E é isso mesmo, na vida nadamos e nadamos e nunca saímos do lugar. Até se cansar e afundar. E cada vez que eu sonho com isso é mais difícil ficar na superfície.
- Você precisa é de ajuda.
- Acho que sim, mas não ia mudar nada. Cada vez que sonho me afundo mais. E ontem derramei a primeira lágrima pela vida. Outras vezes eu até tentava, mas acabava desistindo quando parecia que saia do lugar. Mas quando parava, ainda tava lá, no meio daquele mar enorme, parado. Acho que na próxima vez só afundo e acabou, sempre foi fácil assim.
- É fácil, mas é só um sonho também.
- É, mas fica mais real quanto mais sonho com isso. Às vezes realmente acho que saí do lugar, mas nado, nado, e nada. Por mais que olhe pra como isso é, e às vezes me sinta até feliz.
- Realmente acho que precisa de ajuda.
- Vou acabar indo atrás de ajuda. E esquecendo do mar em que me afundo, não sonhando mais com isso. Mas não vou esquecer daquela lágrima de desespero que saiu dos meus olhos quando achei que não tinha mais volta, aí vou continuar nadando, tem tanto mar pela frente ainda, afinal.
- Mas no fundo você sabe que não vai chegar em lugar nenhum.
-...
-...
- E sabe, nessa última vez eu me esforcei como nunca, nunca antes. Mas no final, acabei afundando mais do que nunca, e tô aqui, sem motivo pra te dar bom dia.
- Sem bom dia então.
- Sem bom dia, até mais.
- Até.